De longe o cheiro de comida
podia ser sentido. Quanto mais ele se aproximava, mais forte, delicioso e
tentador aquele cheiro ficava.
Jacó, um excelente chef, especialista no preparo de guisados,
sabia muito bem utilizar os temperos e agradar a todos com os seus pratos. Até
mesmo um simples ensopado de lentilhas se transformava em um banquete em suas
habilidosas mãos.
Quando Jacó preparava a
comida, todos sabiam que algo muito gostoso seria servido. Com certeza, seria o
vencedor do MasterChef.
Esaú estava voltando do
campo. Havia ido caçar. Faminto e exausto. Como dizem por aí, “estava com a
fome de um leão”.
Aquele aroma delicioso
deixou o caçador ainda mais faminto. O
estômago roncava, suas pernas estavam fracas da longa caminhada. A tenda de Jacó era o endereço certo para matar aquela fome.
Sem cerimônias, Esaú
aproximou-se da tenda de seu irmão a tempo de vê-lo finalizando o delicioso guisado. O caldeirão ainda estava fervendo e
Jacó experimentava o último toque de tempero, lambendo a palma da mão, com ar
de aprovação.
- Jacó, me deixa comer desse guisado vermelho. Estou morrendo
de fome - disse Esaú ao seu irmão, com ar desesperador.
- É claro que pode comer. Já está pronto. Pegue um prato,
os talheres, não esqueça o guardanapo - Jacó
respondeu.
A concha cheia do delicioso
guisado estava a ponto de ser derramada no prato de Esaú quando Jacó interrompeu
dizendo: - Você pode comer, mas antes me vende o direito de
primogenitura. Vamos fazer uma troca. Eu dou a comida e você me dá o direito de
ser o primogênito.
Prato na mão, concha cheia,
estômago vazio.
-
Pode ficar com isso. Estou morrendo de fome. Afinal, do que me valerá esse direito?
Diante daquela panela, Esaú
fez um juramento e selaram aquela “venda”.
- Coma à vontade, meu irmão. Tem muita comida aqui. Pegue
esse pedaço de pão e essa taça de vinho também.
Várias conchas de guisado
foram derramadas no prato de Esaú. Ele comeu. Encheu a barriga, matou a fome, se
levantou satisfeito da mesa e seguiu seu caminho palitando os dentes.
A Bíblia usa uma expressão
muito forte a respeito da atitude de Esaú: “Assim Esaú desprezou o seu direito
de primogenitura” (Gn.25.34).
É um problema quando a
“fome” aperta. Trocas erradas podem acontecer se não soubermos dominar aquilo
que fica gritando dentro de nós. No caso de Esaú, o estômago. No nosso caso, as
necessidades.
Não abra mão do que pertence
a você, mesmo quando algo parece ser atraente, apetitoso e cheiroso.
Esaú em poucas horas estaria
com fome novamente. Aquele guisado seria coisa do passado. A fome foi saciada
por algum tempo. Mas abrir mão da sua primogenitura custou para ele algo
precioso: deixou de receber por direito o dobro da herança de seu pai. “MasterTolice”.
Texto de Carlos Barabás
(Gênesis 25.29-34)