quarta-feira, 13 de maio de 2015

O dia em que choveu corações

Todos naquele dia estavam nas ruas.
Ninguém foi trabalhar. As escolas cancelaram as aulas. Parecia feriado. Ninguém saiu de carro nem havia ônibus pela cidade.
Disseram naquela manhã que a tarde iria chover corações.
O sol estava brilhando, iluminando aquele dia tão diferente dos demais.  No horizonte, acima das montanhas, já podiam ser vistas as nuvens escuras, carregadas de corações, chegando sopradas pelos ventos. Os idosos diziam que eram os ventos do amor que assopravam as nuvens.
As mulheres levaram para as ruas panelas e bacias, até uma banheira velha foi vista sendo carregada por três meninos. Todos queriam tomar aquela chuva e recolher o máximo de corações possíveis.
Guarda-chuva? Nem pensar!
Todos estavam eufóricos e há muito não se via tanta alegria pelas ruas.
No meio da tarde, ouviu-se um grande estrondo no céu. Um trovão bem forte e alto foi ouvido por todos. Mas esse trovão não trouxe medo como os outros costumam trazer. Ninguém se escondeu, e as crianças não choraram, nem correram para as suas mães. Todos aplaudiram e levantaram as mãos para o céu.
“Começou! Começou a chuva” alguém gritou do final da rua.
 Era verdade, os corações ainda que pequeninos começaram a pingar sobre as pessoas, mas logo aquela chuva se tornou em uma grande tempestade, uma tempestade de corações caindo sobre todos, sobre toda a cidade.
Corações de todos os tamanhos e de todas as cores.
Logo as bacias e panelas encheram-se, a banheira dos meninos transbordou e ficou pesada de tantos corações que havia nela.
Corações caiam sobre os telhados das casas, escorriam pelas ruas e encharcavam os jardins.
Aos poucos a chuva foi passando. Os ventos carregaram as nuvens vagarosamente para outro lugar. Ela se foi, mas os corações ficaram.
O sol, naquele final de tarde, voltou a brilhar por toda a cidade e os corações refletiam a sua luz.  Bem devagar a noite foi chegando.
Na cidade havia uma paz.
Naquela noite ouvia-se o pulsar dos corações dentro de cada casa. Tum...Tum...; Tum... Tum...; Tum... Tum...
Na rua os três meninos ainda brincavam e se divertiam na velha banheira.


De Carlos Barabás

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