Todos naquele dia estavam nas
ruas.
Ninguém foi trabalhar. As
escolas cancelaram as aulas. Parecia feriado. Ninguém saiu de carro nem havia
ônibus pela cidade.
Disseram naquela manhã que a
tarde iria chover corações.
O sol estava brilhando,
iluminando aquele dia tão diferente dos demais.
No horizonte, acima das montanhas, já podiam ser vistas as nuvens escuras,
carregadas de corações, chegando sopradas pelos ventos. Os idosos diziam que
eram os ventos do amor que assopravam as nuvens.
As mulheres levaram para as
ruas panelas e bacias, até uma banheira velha foi vista sendo carregada por
três meninos. Todos queriam tomar aquela chuva e recolher o máximo de corações
possíveis.
Guarda-chuva? Nem pensar!
Todos estavam eufóricos e há
muito não se via tanta alegria pelas ruas.
No meio da tarde, ouviu-se
um grande estrondo no céu. Um trovão bem forte e alto foi ouvido por todos. Mas
esse trovão não trouxe medo como os outros costumam trazer. Ninguém se escondeu,
e as crianças não choraram, nem correram para as suas mães. Todos aplaudiram e
levantaram as mãos para o céu.
“Começou! Começou a chuva”
alguém gritou do final da rua.
Era verdade, os corações ainda que pequeninos
começaram a pingar sobre as pessoas, mas logo aquela chuva se tornou em uma grande
tempestade, uma tempestade de corações caindo sobre todos, sobre toda a cidade.
Corações de todos os
tamanhos e de todas as cores.
Logo as bacias e panelas
encheram-se, a banheira dos meninos transbordou e ficou pesada de tantos
corações que havia nela.
Corações caiam sobre os
telhados das casas, escorriam pelas ruas e encharcavam os jardins.
Aos poucos a chuva foi
passando. Os ventos carregaram as nuvens vagarosamente para outro lugar. Ela se
foi, mas os corações ficaram.
O sol, naquele final de tarde,
voltou a brilhar por toda a cidade e os corações refletiam a sua luz. Bem devagar a noite foi chegando.
Na cidade havia uma paz.
Naquela noite ouvia-se o
pulsar dos corações dentro de cada casa. Tum...Tum...; Tum... Tum...; Tum...
Tum...
Na rua os três meninos ainda
brincavam e se divertiam na velha banheira.
De Carlos Barabás
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