Não se iluda pelo título do texto. Se você está
esperando uma bucólica e romântica história
envolvendo pastores, rebanhos de ovelhas, uma estrela brilhante no céu, anjos, um casal em uma estrebaria cercado por animais admirando um bebezinho envolto em faixas em uma manjedoura na cidade de Belém, essa talvez não seja a história esperada.
Para falar a verdade, essa é uma história sobre o Natal, no
entanto está deslocada no tempo e no espaço, bem diferente daquela que, com
certeza, aconteceu em uma escura noite
em Belém, quando Jesus nasceu.
Ela também começa em uma noite, véspera de Natal, no
bairro do Tucuruvi, zona norte da cidade de São Paulo, após uma grande
tempestade. Ventos fortes, raios e trovões rasgavam o céu, e muita chuva grossa
havia caído durante a tarde e o início da noite.
Muitas árvores caíram sobre a
rede elétrica e vários bairros e ruas ficaram, por horas, completamente sem luz
.
Tanto a rua como a
casa da minha sogra estavam no meio desse apagão natalino. Ao chegarmos lá para passar a véspera de Natal
com eles e com outros parentes e amigos deparamos com tudo escuro. Aquilo era
inesperado, mas ao mesmo tempo, diferente! Fiquei preocupado pensando se o Papai
Noel acharia a casa no escuro.
O pessoal ia chegando, se cumprimentando, tudo à luz de velas, que estavam espalhadas
por todos os cantos da casa. Tinha vela na sala, na cozinha, no banheiro até
dentro da geladeira (exagero meu).
A previsão da concessionária de energia dizia que os
reparos da rede iriam demorar. Era muita demanda para pouca equipe.
Ficar sem energia elétrica significa: sem TV, sem DVD,
sem wi-fi, microondas, forno
elétrico, ventilador, geladeira e muitas outras coisas. Levei um choque quando percebi o quanto somos dependentes
da energia elétrica, principalmente em uma véspera de Natal.
A árvore estava
apagada, as luzinhas de enfeite na garagem, também.
Quem estava na sala, conversava e contava histórias do
passado, à luz das velas que estavam sobre a mesinha de centro, iluminando
fracamente os enfeites e alguns petiscos que estavam ali (aquelas velas com as
comidas ao lado parecia mais um despacho).
Na garagem (chamado carinhosamente de salão de festa), onde estavam as mesas e cadeiras para a ceia,
havia outro grupo de pessoas, que também conversavam e riam a vontade á luz das
velas.
A energia não voltava. Surgiu, então, uma questão
preocupante. Como esquentar a comida?
Sem forno elétrico e sem mircroondas, só restava o forno
convencional a gás.
O problema era que quando se esquentava algo no forno, o
que havia sido esquentado antes esfriava.
Depois de grandiosas manobras, a ceia foi servida e
começamos a comer tentando adivinhar o que havíamos posto no prato. Literalmente
tivemos um jantar à luz de velas.
Nunca tivemos uma véspera de Natal como aquela.
O mais interessante disso tudo é que pudemos, por um bom
tempo, conversar. Saber como o outro estava. Existem tantas distrações que nos
afastam dos relacionamentos que muitas vezes ficamos desajeitados diante de uma
outra pessoa para conversar. As nossas interações hoje são mais com máquinas do
que com gente de verdade.
Outra coisa que reparei é que as velas que estavam ali, conseguiam quebrar a força da escuridão. Isso
não se assemelha ao que aconteceu lá em
Belém?
“O povo que estava em trevas viu uma grande luz, e sobre
os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz” (Isaías 9.2).
Comemos as sobremesas ainda sob as luzes das velas.
Depois de muito tempo, já de madrugada, a luz finalmente
voltou.
Que bom! Pudemos arrumar tudo no claro.
Quando a luz
chega, fica tudo mais fácil, principalmente para arrumar a bagunça que fizemos
no escuro.
Texto de Carlos Barabás
Nenhum comentário:
Postar um comentário