quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma Escura Noite de Natal


Não se iluda pelo título do texto. Se você está 
esperando uma bucólica e romântica história 
envolvendo pastores, rebanhos de ovelhas, uma estrela brilhante no céu, anjos, um casal em uma estrebaria cercado por animais admirando um bebezinho envolto em faixas em uma manjedoura na cidade de Belém, essa talvez não seja a história esperada.

Para falar a verdade, essa é uma história sobre o Natal, no entanto está deslocada no tempo e no espaço, bem diferente daquela que, com certeza,  aconteceu em uma escura noite em Belém, quando  Jesus nasceu.

Ela também começa em uma noite, véspera de Natal, no bairro do Tucuruvi, zona norte da cidade de São Paulo, após uma grande tempestade. Ventos fortes, raios e trovões rasgavam o céu, e muita chuva grossa havia caído durante a tarde e o início da noite. 

Muitas árvores caíram sobre a rede elétrica e vários bairros e ruas ficaram, por horas, completamente sem luz  .

Tanto a  rua como a casa da minha sogra estavam no meio desse apagão natalino.  Ao chegarmos lá para passar a véspera de Natal com eles e com outros parentes e amigos deparamos com tudo escuro. Aquilo era inesperado, mas ao mesmo tempo, diferente! Fiquei preocupado pensando se o Papai Noel acharia a casa no escuro.

O pessoal ia chegando, se cumprimentando,  tudo à luz de velas, que estavam espalhadas por todos os cantos da casa. Tinha vela na sala, na cozinha, no banheiro até dentro da geladeira (exagero meu).

A previsão da concessionária de energia dizia que os reparos da rede iriam demorar. Era muita demanda para pouca equipe.

Ficar sem energia elétrica significa: sem TV, sem DVD, sem wi-fi, microondas, forno elétrico, ventilador, geladeira e muitas outras coisas. Levei um choque quando percebi o quanto somos dependentes da energia elétrica, principalmente em uma véspera de Natal. 

A árvore estava apagada, as luzinhas de enfeite na garagem, também.

Quem estava na sala, conversava e contava histórias do passado, à luz das velas que estavam sobre a mesinha de centro, iluminando fracamente os enfeites e alguns petiscos que estavam ali (aquelas velas com as comidas ao lado parecia mais um despacho).

Na garagem (chamado carinhosamente de salão de festa), onde estavam as mesas e cadeiras para a ceia, havia outro grupo de pessoas, que também conversavam e riam a vontade á luz das velas.

A energia não voltava. Surgiu, então, uma questão preocupante. Como esquentar a comida?

Sem forno elétrico e sem mircroondas, só restava o forno convencional a gás.

O problema era que quando se esquentava algo no forno, o que havia sido esquentado antes esfriava.

Depois de grandiosas manobras, a ceia foi servida e começamos a comer tentando adivinhar o que havíamos posto no prato. Literalmente tivemos um jantar à luz de velas.

Nunca tivemos uma véspera de Natal como aquela.

O mais interessante disso tudo é que pudemos, por um bom tempo, conversar. Saber como o outro estava. Existem tantas distrações que nos afastam dos relacionamentos que muitas vezes ficamos desajeitados diante de uma outra pessoa para conversar. As nossas interações hoje são mais com máquinas do que com gente de verdade.

Outra coisa que reparei é que as velas que estavam ali,  conseguiam quebrar a força da escuridão. Isso não se assemelha ao que  aconteceu lá em Belém?

“O povo que estava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz” (Isaías 9.2).

Comemos as sobremesas ainda sob as luzes das velas.

Depois de muito tempo, já de madrugada, a luz finalmente voltou.

Que bom! Pudemos arrumar tudo no claro.

Quando a luz chega, fica tudo mais fácil, principalmente para arrumar a bagunça que fizemos no escuro.

Texto de Carlos Barabás


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